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Quatro nigerianos, resgatados no Brasil, sobreviveram 14 dias no leme de um navio

Aug 21, 2023Aug 21, 2023

SÃO PAULO (Reuters) - Em seu décimo dia no mar, os quatro passageiros clandestinos nigerianos que cruzaram o Atlântico em um espaço minúsculo acima do leme de um navio cargueiro ficaram sem comida e bebida.

Eles sobreviveram por mais quatro dias, segundo seu relato, bebendo a água do mar que caiu poucos metros abaixo deles, antes de serem resgatados pela Polícia Federal brasileira no porto de Vitória, no sudeste.

A sua viagem notável e que desafia a morte através de cerca de 5.600 quilómetros (3.500 milhas) de oceano sublinha os riscos que alguns migrantes estão preparados para correr para tentarem uma vida melhor.

“Foi uma experiência terrível para mim”, disse Thankgod Opemipo Matthew Yeye, de 38 anos, um dos quatro nigerianos, numa entrevista num abrigo de uma igreja em São Paulo. "A bordo não é fácil. Eu estava tremendo, de tanto medo. Mas estou aqui."

O alívio deles por terem sido resgatados logo deu lugar à surpresa.

Os quatro homens disseram que esperavam chegar à Europa e ficaram chocados ao saber que de facto tinham desembarcado do outro lado do Atlântico, no Brasil. Desde então, dois dos homens foram devolvidos à Nigéria a seu pedido, enquanto Yeye e Roman Ebimene Friday, um homem de 35 anos do estado de Bayelsa, solicitaram asilo no Brasil.

“Rezo para que o governo do Brasil tenha pena de mim”, disse sexta-feira, que já havia tentado fugir da Nigéria de navio uma vez, mas foi preso pelas autoridades locais.

Migrantes nigerianos são resgatados pela polícia brasileira sentados no leme de um navio após cruzar o Atlântico nesta captura de vídeo sem data. Polícia Federal Brasileira/Divulgação via REUTERS adquire direitos de licenciamento

Ambos os homens disseram que as dificuldades económicas, a instabilidade política e o crime os deixaram com poucas opções a não ser abandonar a sua Nigéria natal. O país mais populoso de África tem problemas antigos de violência e pobreza, e os raptos são endémicos.

Yeye, um ministro pentecostal do estado de Lagos, disse que a sua fazenda de amendoim e óleo de palma foi destruída pelas enchentes deste ano, deixando ele e sua família desabrigados. Ele espera que agora eles possam se juntar a ele no Brasil.

Friday disse que sua viagem ao Brasil começou em 27 de junho, quando um amigo pescador o levou até a popa do Ken Wave, de bandeira liberiana, atracou em Lagos e o deixou no leme. Para sua surpresa, encontrou três homens já ali, esperando a partida do navio. Sexta-feira disse que estava apavorado. Ele nunca conheceu seus novos companheiros e temia que eles pudessem jogá-lo ao mar a qualquer momento.

Assim que o navio estava em movimento, Friday disse que os quatro homens fizeram todos os esforços para não serem descobertos pela tripulação do navio, que também temia que pudesse lhes oferecer uma sepultura aquática.

“Talvez, se eles te pegarem, eles te joguem na água”, disse ele. "Então aprendemos a nunca fazer barulho."

Passar duas semanas a pouca distância do Oceano Atlântico era perigoso.

Para evitar cair na água, Friday disse que os homens amarraram uma rede em volta do leme e se amarraram a ela com uma corda. Quando olhou para baixo, disse que podia ver “peixes grandes como baleias e tubarões”. Devido às condições apertadas e ao barulho do motor, o sono era raro e arriscado. “Fiquei muito feliz quando fomos resgatados”, disse ele.

O padre Paolo Parise, padre do abrigo de São Paulo, disse ter encontrado outros casos de passageiros clandestinos, mas nunca um tão perigoso. A jornada deles é uma prova de até onde as pessoas vão em busca de um novo começo, disse ele. "As pessoas fazem coisas inimagináveis ​​e profundamente perigosas."

Reportagem de Steven Grattan; Edição de Gabriel Stargardter e Rosalba O'Brien

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